60 - Certificação agrícola: sustentabilidade de todo o sistema

Dentre as atividades humanas, as explorações agrícola, florestal e pecuária, sem qualquer dúvida, estão incluídas entre aquelas com maiores impactos econômicos, sociais e ambientais na vida dos povos e países. Para facilidade de expressão, doravante estas atividades serão referidas simplesmente como atividades agrícolas.

Na evolução das atividades agrícolas, houve a retirada das vegetações nativas, introdução de espécies exóticas, mobilização do solo com maquinário pesado e a extinção de uma rede biótica que mantinha o controle populacional de herbívoros e fitopatógenos.

Por isso, atualmente, a prática agrícola convive com problemas como elevada perda da camada fértil do solo pela erosão, assoreamento de corpos hídricos, freqüentes e diversificados fluxos populacionais de insetos-praga, agentes fitopatogênicos e plantas invasoras. Estes problemas foram se tornando mais evidentes e importantes à medida em que a população humana crescia, havia maior demanda por alimentos e o êxodo rural fazia com que menos pessoas produzissem para suprir uma demanda crescente de alimentos, fibras, madeira, e, mais recentemente, combustível.

Assim, cresceram as formas de intervenção para compensar as perdas de produtividade agrícola provocadas pela menor fertilidade do solo e as ações de agentes bióticos, como as pragas agrícolas. Os fertilizantes químicos e os pesticidas foram introduzidos como forma de assegurar o potencial produtivo das variedades melhoradas, com grande potencial de recrutamento de recursos do ambiente e baixa resistência aos inimigos da planta cultivada. A evolução da produção e uso desses insumos levou o homem ao acomodamento em relação à utilização de outras práticas ambientalmente sustentáveis e ao abuso do uso de algumas atividades de elevado impacto ambiental.

Considerando que os agroecossistemas estão distribuídos em todas as regiões do planeta e suprem alimentos para o homem e animais domésticos, é importante compatibilizar a produção de alimentos, fibras e energia com a conservação de recursos naturais, o bem-estar dos trabalhadores rurais e a saúde humana e animal, num processo de sustentabilidade de todo sistema, preservando-o para futuras gerações. Para atingir esta meta, é importante que o agricultor esteja bastante preparado e, também, consciente de sua função social. Este é um processo que envolve uma mudança cultural de longo prazo.

A importância da certificação agrícola

Em curto prazo, algumas medidas regulatórias são muito importantes não só para assegurar um caminho seguro para a sustentabilidade da atividade agrícola, mas também para a formação do agricultor do futuro. Dentre elas, a certificação agrícola, sem dúvida alguma, é uma das estratégias de maior força e eficiência. Trata-se de um instrumento de pressão econômica, englobando exigências do mercado consumidor, criando produtos diferenciados tanto em termos de aceitação quanto de preços, além de diferenciar produtos e produtores.

A certificação agrícola surgiu na Europa por meio dos movimentos ambientalistas e sociais, enfocando primariamente a agricultura orgânica e a exploração florestal. Havia grande preocupação com o desbravamento de florestas nativas na América do Sul, África e Ásia e o uso exagerado de pesticidas em regiões tropicais e sub-tropicais do planeta.

O processo evoluiu e, atualmente, a própria agricultura tradicional é passível de certificação. No processo de avaliação e certificação, a propriedade ou o produto devem ser avaliados dentro de padrões estabelecidos com base em informações científicas sólidas e isentas de qualquer critério ideológico. A sustentabilidade do agroecossistema, o bem-estar do trabalhador rural, sua inserção social e a saúde da população humana e animal devem ser os princípios norteadores da certificação.

Benefícios diversos

De acordo com Pinto & Prada (1999), a certificação pode produzir uma série de benefícios à população e proporcionar novas oportunidades e desafios aos grupos de interesse envolvidos. Entre eles, os consumidores são beneficiados pelo conhecimento e opção dos produtos que consomem; os grupos sociais e ambientais, pela participação na definição de alguns padrões de inserção; os pesquisadores, no desenvolvimento de trabalhos multidisciplinares contemplando práticas de menor impacto ambiental e maior inserção social do trabalhador. O Estado também é favorecido pela possibilidade de formulação de novas políticas públicas para financiamento e tributação da atividade agrícola. Por fim, os produtores, os quais podem ser favorecidos pela diferenciação de seus produtos, com acesso a fontes alternativas de financiamento, o aumento do controle interno da propriedade e do seu sistema produtivo, além dos benefícios à imagem pública.

Considerando a grande demanda de alimentos e combustível no Brasil e no mundo, a certificação deverá, sem dúvida, contemplar a produtividade da atividade sob exame. Elevadas produtividades são fundamentais para que a demanda não seja atendida às expensas do aumento da fronteira agrícola sobre importantes formações vegetais nativas, como a hiléia amazônica e o remanescente da zona dos Cerrados.

Com relação às grandes variações nas densidades populacionais de insetos, nematóides, ácaros, fitopatógenos e plantas daninhas, o programa fitossanitário global deve ser avaliado por meio de medidas preventivas e alternativas no manejo desses organismos e, no caso do controle químico, o uso correto de pesticidas deve ser avaliado por meio de certificação dos equipamentos e dos aplicadores. É importante que a certificação de alguns insumos agrícolas também seja contemplada. Os procedimentos de colheita, armazenamento e transporte também são passíveis de padronização neste processo.

Alguns aspectos gerais da propriedade rural também são fundamentais para a certificação de uma determinada atividade ou produto, tais como a adoção de práticas conservacionistas, a manutenção da reserva legal de vegetação nativa, as condições de trabalho na propriedade e as proteções de mananciais e margens de corpos hídricos.

Não há dúvidas de que um programa de certificação baseado em sólidas informações científicas e com forte preocupação ambiental e social deverá contribuir para a evolução da agricultura sustentável no mundo, para a formação do consumidor consciente, para a valorização do conhecimento profissional, para os produtores de insumos comprometidos com o meio ambiente e para as gerações futuras deste planeta finito.

Robinson Antonio Pitelli - Engenheiro Agrônomo e representante da Ecosafe Agricultura e Meio Ambiente (empresa especializada em planejamento, experimentação, assessoria, consultoria, prestação de serviços e cursos na área de avaliação do impacto ambiental de invasões biológicas e dos métodos utilizados em seu manejo.)

Bibliografia citada
Pinto, L. F. G. & Prada, L.S. Certificação agrícola sócio ambiental: Iniciativa piloto para a cana-de-açúcar. Informações econômicas, v. 29, n. 5, 1999.

 

Fonte: https://www.portaldoagronegocio.com.br

Acessado em 29/10/2011

 

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