50 - Agricultura Orgânica: um pouco de história

 
 
Autor: Eduardo Ehlers
 
Sem utilizar fertilizantes sintéticos, a agricultura orgânica busca manter a estrutura e produtividade do solo, trabalhando em harmonia com a natureza


A agricultura orgânica é o sistema de produção que exclui o uso de fertilizantes sintéticos de alta solubilidade, agrotóxicos, reguladores de crescimento e aditivos para a alimentação animal, compostos sinteticamente. Sempre que possível baseia-se no uso de estercos animais, rotação de culturas, adubação verde, compostagem e controle biológico de pragas e doenças. Busca manter a estrutura e produtividade do solo, trabalhando em harmonia com a natureza.

A obra do pesquisador inglês Sir. Albert Howard foi o principal ponto de partida para uma das mais difundidas vertentes alternativas de produção, a agricultura orgânica. Entre 1925 e 1930, Horward dirigiu, em Indore, Índia, um instituto de pesquisas de plantas, onde realizou vários estudos sobre compostagem e adubação orgânica, publicando posteriormente obras relevantes do setor.

Processo “Indore”

Em 1905, Horward começou a trabalhar na estação experimental de Pusa, na Índia, e observou que os camponeses hindus não utilizavam fertilizantes químicos, mas empregavam diferentes métodos para reciclar os materiais orgânicos. Howard percebera, também, que os animais utilizados para tração não apresentavam doenças, ao contrário dos animais da estação experimental, onde eram empregados vários métodos de controle sanitário. Intrigado, Howard decidiu montar um experimento de trinta hectares, sob orientação dos camponeses nativos e, em 1919, declarou que já sabia como cultivar as lavouras sem utilizar insumos químicos.

Seu sistema partia do reconhecimento de que o fator essencial para a eliminação das doenças em plantas e animais era a fertilidade do solo. Para atingir seu objetivo ele criou o processo “Indore” de compostagem, desenvolvido entre 1924 e 1931, pelo qual os resíduos da fazenda eram transformados em húmus, que, aplicado ao solo em época conveniente, restaurava a fertilidade por um processo biológico natural. 

Em suas obras, além de ressaltar a importância da utilização da matéria orgânica nos processos produtivos, Howard mostra que o solo não deve ser entendido apenas como um conjunto de substâncias, pois nele ocorre uma série de processos vivos e dinâmicos essenciais à saúde das plantas.

Seguindo essa mesma linha, Lady E. Balfour fundou a Soil Association, que ajudou a difundir as idéias de Howard na Inglaterra e em outros países de língua inglesa. Em 1943, Lady Balfour publicou The Living Soil (O solo vivo), reforçando a importância dos processos biológicos no solo.

A recepção do trabalho de Howard junto a seus colegas ingleses foi péssima, tendo sido ele inclusive hostilizado em uma palestra proferida na Universidade de Cambridge, em 1935, quando regressava do Oriente, afinal suas propostas eram totalmente contrárias à visão “quimista” que predominava no meio agronômico. A obra de Howard só foi aceita por um grupo reduzido de dissidentes do padrão predominante, dentre os quais destaca-se o norte-americano Jerome Irving Rodale, que passou a popularizar suas idéias nos Estados Unidos.

Na prática

Em 1940, J. I. Rodale adquiriu uma fazenda no estado da Pensilvânia, EUA e, motivado pela convicção de que os alimentos produzidos organicamente são preferíveis para a saúde humana, passou a praticar os ensinamentos de Howard. Em 1948, publicou o livro The Organic Front. Entusiasmado, Rodale decidiu lançar a revista Organic Gardening and Farm (OG&F), que foi um fracasso nas vendas. Em 1960, passou a administração da editora Rodale Press para o filho, Robert, que, apesar dos prejuízos, continuou publicando a OG&F.

Na década de 60 surgiu a “terceira onda preservacionista-conservacionista” do século XX, lançando o atual ambientalismo a partir da grande publicidade obtida por manifestações em defesa de reservas florestais norte-americanas, mobilizando uma nova geração de ativistas. Novas questões entraram na pauta das tradicionais entidades conservacionistas, principalmente o perigo dos pesticidas para a flora e a fauna, atingindo grandes contingentes de consumidores, que passaram a preocupar-se com a qualidade nutritiva dos alimentos.

Com isso, as vendas da Organic Gardening and Farm começaram a subir e, em 1971, foram vendidos 700.000 exemplares. Parte dos ganhos da publicação passaram a ser investidos em pesquisas e experimentos na fazenda orgânica dos Rodale que, em pouco tempo, tornou-se um dos principais centros de referência e de divulgação dessa vertente alternativa.

Critérios

No final da década de 70, três estados norte-americanos (Oregan, Maine e Califórnia) definiram claramente os critérios para a agricultura orgânica, com o intuito de regulamentar a rotulagem dos alimentos que tivessem essa procedência. De acordo com a Lei de Alimentos Orgânicos da Califórnia (The Califórnia Organic Foods Act), de 1979, esses alimentos devem atender os seguintes requisitos:

- Serem produzidos, colhidos, distribuídos, armazenadas, processados e embalados sem aplicação de fertilizantes, pesticidas ou reguladores de crescimento sinteticamente compostos;

- No caso de culturas perenes, nenhum fertilizante, pesticida ou regulador de crescimento sinteticamente composto deverá ser aplicado na área onde o produto for cultivado num período de doze meses antes do aparecimento dos botões florais e durante todo o seu período de crescimento e colheita;

- No caso de culturas anuais e bianuais, nenhum fertilizante, pesticida ou regulador de crescimento sinteticamente composto deverá ser aplicado na área onde o produto for cultivado num período de doze meses antes da semeadura ou transplante e durante todo o período de seu crescimento e colheita.

Nos anos 80, a noção de agricultura orgânica já apresentava um campo conceitual e operacional mais preciso e, em 1984, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reconheceu sua importância formulando a seguinte definição:

“A agricultura orgânica é um sistema de produção que evita ou exclui amplamente o uso de fertilizantes, pesticidas, reguladores de crescimento e aditivos para a alimentação animal compostos sinteticamente. Tanto quanto possível, os sistemas de agricultura orgânica baseiam-se na rotação de culturas, estercos animais, leguminosos, adubação verde, lixo orgânico vindo de fora da fazenda, cultivo mecânico, minerais naturais e aspectos de controle biológico de pragas para manter a estrutura e produtividade do solo, fornecer nutrientes para as plantas e controlar insetos, ervas daninhas e outras pregas”.

Atualmente os orgânicos estão presentes nas gôndolas das grandes redes de supermercados.

 

Fonte: Sebrae


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